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Diversidade de fungos micorrízicos arbusculares
Atualmente 270 espécies de Glomeromycota foram descritas (Oehl et al. 2014), representando um aumento significativo desde a revisão de Morton & Benny (1990) que utilizaram cerca de 149 espécies (Schenck & Pérez 1990). Existem divergentes estimativas de diversidade para os fungos desde 1,5 milhões de espécies (Hawksworth 1991) até 5.1 milhões (Blackwell 2012), que levam em consideração diferentes parametros de avaliação como aspectos ecológicos ou moleculares. Apesar dessas diferenças marcantes na metodologia fica evidente a ampla riqueza de espécies no reino dos fungos, onde a grande maioria permanece desconhecida já que apenas 2 a 5% das espécie estão descritas (Kirk et al. 2012). Contudo, ainda há certa contradição entre os dados de diversidade. Por exemplo, cerca de 65% das espécies de fungos descritas podem ser sinônimos (Hawksworth 2004), ou seja, cerca de 105.000 espécies de fungos já podem ser conhecidas, considerando apenas dados contidos no Dicionário de Fungos (Kirk et al 2001).
Estimar a diversidade de FMA ainda é um grande problema na micorrizologia já que atualmente existem grande divergência entre pesquisadores quanto ao modo de reprodução desses fungos que até a década passada eram reconhecidos como exclusivamente assexuados (Morton 1990). Entretanto, novas evidências genéticas mostram que esses fungos possuem maquinários meiotícos preservados em seu genoma, mostrando uma contundente evidência de sexualidade (Tisserant et al. 2013). Isso muda drasticamente o paradigma inicial que os FMA seria um grupo de fungos pouco diverso já que seria organismos assexuais. Considera-los como sexuais, e ancestrais, são fatores de peso para acreditar que seja um grupo megadiverso já que teriam tido uma longa história evolutiva (450 a 550 milhoes de anos) para inúmeros processos de especiação. A última compilação de descrições foi feita por Schenck & Pérez (1990), com dados sobre 149 espécies, distribuídas em seis gêneros: Acaulospora (28), Entrophospora (3), Gigaspora (7), Glomus (75), Sclerocystis (13) e Scutellospora (23). Desde então, muitas novas espécies foram descritas e outras passaram a sinonímias (Almeida & Schenck 1990; Walker & Vestberg 1998; Oehl et al. 2002 e 2003).
Segundo de Souza (2007), a aparente pequena riqueza de espécies conhecidas no filo Glomeromycota é paradoxal, principalmente pela origem ancestral desses fungos, a alta diversidade de plantas às quais estão associados, ao longo período da co-evolução da simbiose micorrízica e à ampla distribuição dos FMA nos ecossistemas terrestres. Todos esses argumentos indicam diversificação muito maior do que a conhecida para esse filo. Entretanto, para melhor entender os mecanismos que regem a diversificação de um grupo de organismo é necessário entender a biologia do grupo e os processos relacionados à especiação em Glomeromycota que serão discutidos no tópico referente à conceituação de espécie.
Tomando por base os dados obtidos por Bever et al. (2001) em estudos realizados em área de 1 hectare, com 50 espécies de plantas, onde foram encontradas 37 espécies de FMA, das quais 1/3 ainda não conhecidas para a ciência, de Souza et al. (2008) estimaram a diversidade de FMA entre 37.000 e 78.000 espécies. Sendo assim, atualmente apenas 0,05% das espécies desse grupo de fungos são conhecidas, tomando como base a suposta existência de 37.000 espécies.
Segundo Peixoto et al. (2006), um terço da diversidade biológica brasileira é conhecida e apenas 20% do total de espécies do planeta são citadas no Brasil. Por isso, é plausível estimar elevada diversidade de FMA também no Brasil.
A dificuldade na estimativa da diversidade dos Glomeromycota está relacionada ao difícil acesso ao fungo, que se deve basicamente ao micotrofismo obrigatório e à natureza hipógea, além da falta de amplo conhecimento sobre a ecologia e a biologia desses fungos (Bever et al. 2001; de Souza et al. 2008). Além disso, as descrições das espécies estão baseadas em evidências morfológicas dos glomerosporos extraídos do solo nativo ou de cultivos, porém há espécies que não são observadas na forma de esporos (Clapp et al. 2002). Todos esses problemas relacionados à diversificação desse grupo promovem também dificuldades conceituais sérias. Definir espécie para FMA ainda é uma tarefa difícil tendo em vista as limitações morfológicas (com ampla diversificação em uma mesma espécie) e também as moleculares (que mostram a segregação de espécies consideradas similares).
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